terça-feira, 9 de novembro de 2010

Festa do Leitão Biológico de Bolfiar

Abro o Bairradices, com as portas devidamente escancaradas, ao comediante e amigo das tradições Manuel Farias, que nos fez chegar uma belíssimo e raro escrito das profundezas das serranias de Águeda. O assunto é nobre e por tal nem sequer me meto. Aqui vai amigo Farias... e mande sempre.

"Quando o “Morcego” de Aguada de Cima tinha encomendas especiais, lá no largo das Almas Santas da Areosa, esperava pelos 17. Havia sempre carrões serranos que traziam ninhadas de leitões malhados de branco e cinza, esguios e travessos, soltando grunhidos da fome, depois de uma viagem de 2 ou 3 horas. Tinham deixado a teta da mãe ainda de madrugada e vinham para a feira, exaustos com os balanços, tormentosos sempre que os rodados de miul se atolavam nos regueiros do caminho do Seixo ou, logo de seguida, saltavam contra a touceira de moiteira. Vinham da serra e o “Morcego” esperava-os com a mesma inquietude com que os comerciantes quinhentistas se apinhavam na Ribeira das Naus, esperando a chegada das caravelas e a sua carga preciosa de pimenta, cravinho e canela.

Foram os leitões serranos, autóctones da raça bísara que fizeram a fama do leitão assado pelo “Morcego” e, a partir daí, do leitão assado pela extensão da Bairrada. Há muitas décadas de anos atrás, os leitões tinham propriedade do nome: filhos do leite… de porca, naturalmente, com certificado biológico de raça e de crescimento. As ninhadas que hoje sobem à mesa talvez se devam chamar “farinhões”, atendendo à substância da sua criação.


Há alguns meses atrás, um projecto de criação nativa em Bolfiar, propôs-se fazer a experiência de repetir a criação tradicional do leitão serrano de raça bísara, deixando as porcas em campo aberto, com ninhadas dependentes da sua força criadora, tal como a natureza quer e deixa: os leitões apenas receberam alimento das mães paridas, sem regime nem horas de pocilga humanizada. Para além do leite materno, ficam por lá verduras que a natureza dita, tal como cabaças e melancias, de nascimento quase espontâneo e que entusiasmam qualquer bácoro de boa saúde.


Neste ambiente de rudeza e naturalidade, as doenças não sobrevivem. Os bacorinhos bísaros e quase selvagens regressam às tetas túgidas entre duas corridas, sugando a vida que se vai acabar, honrosamente, na celebração gastronómica. No dia 14 de Novembro, a hora de almoço é o tempo certo para o santo sacrifício, na velha escola primária de Bolfiar, onde tem sede a Associação dos Compartes dos Baldios. Vamos ao tira-teimas, porque há quem diga que o leitão é todo igual e que o tempero é que faz a diferença. O saber tradicional desta gente que está nas portas da serra diz que não: a diferença está no animal, o aroma apenas serve para o celebrizar e, em alguns casos, até para lhe encobrir os defeitos".


Para esta celebração do dia 14 de Novembro, as inscrições estão abertas e podem ser feitas pelos telefones 234623771, 234622296, 938502169 ou 234724083, até ao dia 12, sabendo que os lugares disponíveis são limitados.

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