quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Assim se fala em bom "Bairradês"

Recebi há dias esta pérola do léxico nacional e reparei que por vezes à nossa volta há sempre alguém a utilizar um destes belíssimos termos. A coisa não é grave pois se fosse no Porto levava sempre uma asneirola no fim, tipo pontuação. Embora com o êxodo rural e outras formas migratórias internas esta forma fascinante de falar com palavrão no fim acabou por chegar a todo o lado, mesmo ao mirandês, mas aqui, mesmo que se digam ninguém “pesca” nada.

Mas vamos a alguns exemplos que são usados, também, no quotidiano bairradino.

Alevantar - Este é de caras. É o acto de levantar mas com determinação e superioridade. Ex: “Estavam a brincar comigo mas eu alevantei-me e pus-me a andar”.

Amandar - Atirar ou arrimar com muita força. Ex: “É pá, passei-me e amandei o capacete para longe”.

Assentar - É da mesma família das anteriores. É o acto de pousar o respectivo traseiro. Ex: Vai-te lá assentar e não me chateies”.

Aspergic - Publicidade à parte, este é um dos medicamentos mais conhecidos do nosso meio, mas dito assim parece uma mistura explosiva de laboratório.

Binho - Líquido resultante, a maior parte das vezes, da fermentação de uvas. Crê-se que a utilização do B se associa ao facto de para muitos ser mesmo muito Bommmm.

Capom - Porta de acesso aos motores dos carros (excepto nos carochas) que quando bate faz um ruído parecido com POM e fica linda quando lavada com “Champom” automóvel.

Destrocar - Milagre da multiplicação, repetida, associado ao dinheiro. Damos uma nota para “destrocar” e ficamos cheios de “miúdos”, vulgo trocos.

Disvorciada - Sinónimo de descasada. Mulher que já foi casada e já não o é, diz-se.

É assim... - Termo utilizado para ganhar tempo, não quer dizer m… nenhuma, mas é vulgar ver historiadores, políticos e jornalistas, entre outros intelectuais a optarem por este quebra brancas, que para quem desconhece até parece que precede um clamoroso discurso.

Entropeçar - Tropeçar entre duas coisas. Ex: “tentei passar entre o banco e o balde e acabei por entropeçar”.

Êros - Diz-se na Bairrada para designar a moeda adoptada pelos estados membros da Comunidade Europeia (plural).

Há-des - Das minhas favoritas. “Há-des cá vir um dia com essa que te mordo a língua”.

Inclusiver - Esta também é boa e muito mais engraçada quando usada na variante "inclusivel".

Númaro - Sem grandes explicações. Se eu soubesse os númaros dos Euromilhões não andava para aqui a blogar. Também se usa “númbaros”.

Parteleira - Local onde as parteiras guardam os livros e utensílios do parto.

Prontus - Fim de frase. Maneira de acabar a conversa. A vida é assim e “Prontus”.

Stander - Local onde compramos automóveis. Adoptado também para as barraquinhas de feiras. Quem sabe não deriva do “estender” qualquer coisa numa feira. Aí até se torna credível.

Para melhor perceber este léxico tão especial, caros amigos, só vos posso dizer que hoje alevantei-me cedo e logo pensei em amandar este post no Bairradices, mas a dor de cabeça era tão forte que tomei um aspergic e misturei-lhe binho ao almoço. O carro avariou-me e levantei o capom e vi que não havia óleo no motor, fui às compras, destroquei uma nota na oficina da Isilda disvorciada, entropecei no tapete e larguei todos os êros que tinha no bolso.

Com tanto azar, virei-me para o carro e suspirei: Há-des Cá vir pedir gasolina que depois a gente conversa. Não levas mais nada, inclusiver pneus novos. Vou procurar o númaro do stander e vais voltar para lá, para te porem numa parteleira.

E prontus “assim se fala em bom bairradês”...

5 comentários:

Anónimo disse...

Tá boa. mas ainda faltam algumas como o "sucre" que é aquilo que melhora o gostinho do café ou então a "áuga" que nos mata a sede. Devíamos ter um dicionário assim, com estas coisas.

Anónimo disse...

boa sugestão essa do café com sucre mas à tardinha o que prefiro mesmo é um bom "orgute" para enganar o "estogamo" eheheheh

cpms

Anónimo disse...

Ainda falta aqui o 'desarriscar', que é dar baixa de um calote num caderno de merceeiro.

Anónimo disse...

"Atão" ninguém se "alembra" de "mai" nada?

Pedro Paiva disse...

cem palabras

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